
Fanning vira na base e mostra que é assim que se faz.
Deu de tudo, e de tudo deu na praia da Vila, durante as disputas do WCT Brasil 2006. Marolas, só pra variar um pouco, água trincando, sol, vento nordeste, areia nos olhos, ventorréia de sul, frente-fria, chuva, baladas fortes, cancelamentos, adiamentos, novas chamadas, público frustrado, pousadas lotadas, restaurantes movimentados, pseudo-jornalistas e fotógrafos pra lá de marrentos, ondas horrivelmente mexidas pelo ventão e "especialistas" no assunto dizendo que havia altas quando, na verdade, eram os caras que surfavam muito... Também estavam lá a mulherada, sempre pronta pro crime, os gaúchos valentões que se metem a locais no Rosa e, infelizmente, os atletas brasileiros a decepcionar.
Olha, foi doído de ver o Pedro Henrique nas duas ocasiões em que esteve em ação. Definitivamente tá danado. Paulo Moura, Marcelo Nunes e Pedro Norberto só ciscaram. Eles são muito fracos para estarem competindo na elite do surfe mundial! E não me venha com a desculpa de que foi o mar que não ajudou.
Jean da Silva, Raoni Monteiro, Victor Ribas e Neco Padaratz também não estiveram nos seus melhores dias e, o agora super-star, Adriano Mineirinho, também deixou a desejar ao ser presa fácil para as patadas do havaiano Fred Pattachia, na terceira fase. Para quem estava querendo arrumar uma vaga entre os top 16 antes da etapa de Pipeline, faltaram pernas, força e mais disposição.
Então, o que falar do Peterson? É um bom garoto, o Peterson, gosto dele, mas seu surfe na praia do Rosa, durante as oitavas de final, em esquerdas de 1,0m em média, com aquele estilo de bases abertas, foi algo medonho de se assistir. É disparado o top do Tour que mais usa o fundo da prancha. Até que as primeiras batidas junto ao lip, após a virada na base, impressionaram, mas a seqüência de puxadas pra dentro da onda...
Depois de ter despachado o Andy e deixado o outro Irons de Bruce (o trocadilho aqui é do apresentador da Sportv Ícaro de Paula), o paulista Odirley Coutinho, o "Cheyne Horan" brasileiro, também sucumbiu aos rasgadões do havaiano Pattachia. E um dia antes das finais já não tínhamos brasileiro para torcer. É, Realmente, 2006 não vem sendo um bom ano para os brasileiros no circuito. Mas qual ano foi?
Continuamos sendo meros coadjuvantes. Além disso, não posso deixar de mencionar: Não vi qualquer brasileiro realmente focado nesse campeonato. Durante os 10 dias do evento, cheguei cedo à praia, entre 6h30 e 7h, afim de conferir o mar e produzir o boletim para a rádio e não vi em nenhuma oportunidade um brasileiro sequer no outside, treinando antes do soar da sirene.
Mas o Mick Fanning estava lá. Fosse o vento nordeste, estivesse a água fria, na chuva ou mesmo nos dois dias de vento sul, ele era sempre o primeiro na água. No último dia do Nova Schin Festival, quando cheguei à praia da Vila por volta de 7h20, Mick já estava saindo do mar com sua prancha 6'0 debaixo do braço, deixando para trás o mar mexido, irregular e com ondas balançadas de 2,5m.
Fanning veio para ganhar a etapa brasileira e a levou de forma inconteste, surfando pra frente, sempre com uma velocidade impressionante, o que até nem é novidade. Sua abordagem na onda, a maneira em que se posiciona, impressionou, assim como a de outro australiano, o Phillip Mc Donald. Surfe de base-lip, como gostam os juízes, daqueles que levam o público ao delírio: explosivo, forte, moderno, com manobras definidas e bem aplicadas. O confronto das semi-finais, entre Fanning e Phillip, valeu muito mais do que a grande final.
No frigir dos ovos, CJ Hobgood arrebentou no Rosa e, na Vila, foi bacana assistir seu duelo contra seu irmão Damien. Greg Emslie surpreendeu Taj Burrow e todos nós. Joel Parkinson não teve sorte na escolha das ondas e Bob Martinez, mal julgado em algumas ondas nas quartas-de-final, foi o mais prejudicado.
Ao completar 20 anos acompanhando as etapas brasileiras do circuito mundial, posso dizer que gostei do que vi nesse ano no Nova Schin Festival 2006 em termos de organização e estrutura. Melhorou consideravelmente em relação aos anos anteriores, mas ainda precisamos realizar uma etapa com ondas realmente mais consistentes.
Quem sabe em 2007?