domingo, julho 29

Será que valeu a pena?

Ernesto Nunes o vencedor num sorriso amarelo ao lado de Cauê o mascote do Pan. Faltou a medalha...
Foto: Ian Melo - Site Rico Surf

E por falar em Jogos Pan Americanos, O Rio Latin Surf Pro, uma espécie de Pan-americano do Surfe, que rolou na Prainha, no Rio de Janeiro, no início de julho e que contou com a participação de 128 competidores de 15 nações da América Latina, foi bancado pelo governo desse Estado através da sua Secretaria de Turismo Esporte e Lazer, comandada por Eduardo Paes, ainda não teve sua prestação de contas realizada e muito menos aprovada.

Ecoam por aqui informações que essa competição custou aos cofres públicos, pasmem, a bagatela de 350 mil reais para a sua realização. O que me surpreende é saber que ao invés de se investir esses valores num circuito profissional carioca tão carente de boas etapas com boa premiação, bancou-se um evento totalmente sem a mínima tradição, e que nem medalhas valeu (o surfe não é esporte olímpico – pois não é reconhecido pelo COI). Ou estou errado?

Ao saber do fato, encaminhei nesse domingo, email ao deputado Eduardo Paes, solicitando novas informações e possíveis esclarecimentos. Assim que tiver uma posição estarei postando aqui.

Frio aqui. Quente lá...

Cheguei agora de São Joaquim. Foi a madrugada mais fria do ano. Eram 0:42 do domingo e lá estava eu feito tolo, na pracinha da cidade, conferindo o termômetro que marcava -5ºC. Bem que eu deveria ter levado o long-jhon. E dava pra usar na boa, tal a sensação térmica. Camiseta, blusa de lã e mais os dois gorros não foram “suficientes” para segurar a friaca que chegou ao litoral brasileiro nesses últimos dias.

O vento sul que entrou rasgando deixou o mar todo desarrumado sem boas opções de surfe de norte a sul de Santa Catarina. Então, resolvi abandonar – na mais boa vontade – a água trincando, o vento gelado, e as ondas mexidas, para subir a serra catarinense em família. É sempre bom sair do seu mundo e apreciar novas paisagens. Ir a São Joaquim pela Serra do Rio do Rastro e voltar pela Serra do Corvo Branco é mais que um bom passeio.

Passeio. Taí uma palavra que cai bem pra comentar a vitória do catarinense Jean da Silva sobre Gabe Kling nas quartas de final no Honda Us Open of Surfing. Os dois acabaram de sair da água nesse momento lá na Califórnia. Jean (na foto), não deu mole para o yankee e avançou para a semifinal nas marolas de Huntington-Beach, um dos mais tradicionais palcos do surfe competição mundial. Nesse mesmo lado do píer, lendas do surfe já se enfrentaram em duelos memoráveis, construiram fama e carreira. Jean aos poucos começa a escrever a sua história no Tour. Se por aqui o frio continua, pro lá as coisas estão é pegando fogo.

Clique aqui para conferir as semis, a final e os resultados...

sexta-feira, julho 27

Terras extremas...

Chris McCandless foi morrer no Alaska. Em maio de 1990, depois de ter conseguido o bacharelado em Direito com notas excelentes, abandonou a universidade, doou suas poupanças – cerca de cinco mil contos – a uma instituição de caridade que combate a fome nos Estados Unidos, desfez-se do velho Datsun de segunda mão com todos os haveres lá dentro num deserto do Arizona, queimou os últimos dólares que tinha na carteira e deixou-se arrastar pela sua sede de aventura, de vida ao ar livre e de horizontes sem fim.

Durante dois anos errou sem destino pela América do Norte, trabalhou esporadicamente, conheceu pessoas e atravessou paisagens. Saltou para comboios de mercadorias, pediu carona, andou a pé, dormiu ao relento, passou fome. Leu Jack London, Henri Thoreau, Tolstoi, e sublinhou as frases que não podia ignorar: “A verdadeira colheita da minha vida cotidiana é algo inatingível e indescritível como as cores da madrugada e do crepúsculo” num livro de Thoreau: “Sentia em mim um excesso de energia que não cabia numa vida tranqüila” num livro de Tosltoi.

No final de abriu de 1992 pegou a última carona da sua vida. Encontrava-se em Fairbanks, no Alaska, e pediu para ser deixado na entrada do Delani National Park. Explicou ao condutor que queria enfiar-se na floresta e viver alguns meses em contato total com a Natureza. Agradeceu a carona e desapareceu na taipa coberta de neve. O corpo foi encontrado no princípio de setembro, dentro da carcaça de um ônibus que nos anos 60 servia de abrigo a mineiros que exploravam o interior do parque. Numa corda ligada à porta ondulava uma bandeira improvisada com um tecido de cor vermelha. No vidro um bilhete manuscrito explicava: SOS, preciso de ajuda. Estou doente, quase a morrer, e não tenho forças para retornar a pé. Pelo amor de Deus, suplico, fiquem à minha espera. Ando por perto a recolher bagas e regresso no fim da tarde. Obrigado. Chris McCandless. Agosto?

Não existe muita gente como Chris. Gente que decide virar as costas à vida em sociedade e adotar um sistema de valores em que conforto material está no escalão mais baixo, em que não é reconhecida qualquer autoridade ao senso comum, em que dinheiro não tem lugar. A beleza de cada momento, a intensidade das emoções, o contato direto com a Natureza, o desassossego e a viagem conta mais.

Chris não era surfista, mas ao ler a história da sua vida “Into the Wild – 1996” que o jornalista Jon Krakauer reconstruiu através dos diários, fotografias, várias cartas e entrevista junto aos amigos e a família, fico pensando que Chris gostaria de ter tido a oportunidade de se relacionar com o mar da forma que só a um surfista é permitida.

A curta existência de Chris é vagamente paralela à do seu compratiota Mike Boyum. Tal qual como Chris, Mike tinha “um excesso de energia que não cabia numa vida tranqüila”. Abandonou a universidade para viajar pelo sul do Pacífico e aprendeu a surfar na Indonésia no início dos anos 70. Amigo de Gerry Lopez e de Peter McCabe, foi ele que inventou o surf camp, na onda que tinha descoberto com o seu irmão Bill – a onda de Gland. Mike na realidade chamava ao campo de “surf monastery”, e propunha a todos os que ali passaram nesses primeiros anos uma experiência quase mística. Tal como Chris, Mike desdenhava o conforto material e seguia uma alimentação baseada quase que exclusivamente em arroz integral. Nadava diariamente horas seguidas, corria quilômetros a fio e recorria com freqüência à pratica do jejum para limpar o “bad karma” do corpo – mantendo-se por vezes várias semanas sem ingerir um único alimento.

Tentou financiar as suas viagens com o tráfico de entorpecentes e as coisas não correram bem. Esteve preso dois anos, foi ameaçado de morte por outros traficantes, envolveu a própria família nos seus problemas e acabou por fugir para a Ásia em 1988. Nas Filipinas – dizendo chamar-se Max Walker, a identidade secreta do “Fantasma” dos quadrinhos – descobriu a onda Cloud 9, instalou-se em frente do recife, na selva que os habitantes acreditavam ser assombrada e construiu uma cabana com troncos e folhas de palmeira. Mike escreveu uma carta à irmã que projetava um novo “surf monastery” e uma vida nova em Cloud 9.

Iniciou um jejum, como purificação e ponto de partida. Escreveu um diário ao longo do jejum, nadava nas águas translúcidas do recife, atravessava longos períodos de êxtase, sentia o sol acariciar-lhe a fraqueza do corpo. Pediu a um missionário da Ilha de Siargao que lhe trouxesse alimentos ao fim de quarenta e três dias, tempo que se propunha manter-se sem comer. Morreu antes, provavelmente no dia 40 ou 41.

Chris e Mike quiseram tocar o extremo, em plena comunhão com a Natureza, longe da civilização que tanto desprezaram. A história da sua vida, e da sua morte, é uma janela aberta sobre horizontes que a nossa existência pacata e sempre igual não pode sequer imaginar. Não é para aqui chamada a minha opinião sobre gente como Chris e Mike, mas podemos, e devemos, pôr-nos uma pergunta particularmente incómoda ao tomar conhecimento de personagens deste calibre: quem é que no fim morre mais feliz – eles ou nós? Provavelmente nunca saberemos...

Crônica de Gonçalo Cadilhe do livro: No princípio estava o mar...

quinta-feira, julho 26

Noites quentes no CIC...

O projeto que começou há sete anos de forma despretensiosa acontece novamente nesse mês de agosto no cinema do CIC. O mercado de vídeos já não é nenhuma novidade, basta olhar nos principais sites onde pipocam lançamentos. No Brasil as coisas andam um pouco mais devagar, mas não há como negar que houve evolução de uns tempos pra cá, afinal os vídeos ditos promocionais são ótima ferramenta de marketing para as marcas envolvidas com esse tal de surfe.

Nesse ano o público aqui da cidade vai conferir o filme distribuído pela Rip Curl no final do ano passado e que conta a história de um dos favoritos ao título do WCT nessa temporada, Mick “Macaco Albino” Fanning. “Mick, Myself e Eugene” abre a Mostra Surfe Agosto dia 9.

Nas outras noites, sempre as quintas, alguns lançamentos: “All In The Family” é um ensaio da vida do havaiano Kallani Robb produzido pela marca Fox. “Scissors Paper Rock” e “No Way Man”, foram lançados recentemente pela Rusty dando enfoque nas performances de Josh Kerr e CJ Hobgood membros do Tour da ASP e fecha com o novíssimo Tropical Punch da Billabong com imagens quentes, recém saídas do forno, produzidas no último Billabong Pro do Tahiti, além de sessões de free-surfe de seis semanas naquelas cracas cascudas – desculpem pela redundância. Já a DC Shoes promove no próximo dia 2 para alguns sortudos convidados uma avant-premiére do filme “The DC Video” com destaque para os membros da sua equipe de skate.

E aí você leitor vai me cobrar. E os vídeos brasileiros onde entram nessa edição da Mostra Surfe Agosto? Eu respondo: Não entram, serão exibidos possivelmente, com destaque para a nova fábula do Fabinho: “Fia, filhos e Agregados”...durante a etapa do CT – se rolar em Santa – em novembro. É que faltaram quintas-feiras.

O passaporte antecipado para todas as cinco noites custa 10 merrecas. O preço de uma Sex-Wax, pra ninguém reclamar, e podem ser adquiridos na rede de lojas J'Bay. Agora, mais barato não dá! Eita povinho favela...

E aí, tá coçando?

É aí, tá com tempo livre? Tá mesmo de bobeira?
Aposto que sim. Senão, não ias estar aqui lendo essas bobagens no Alohapaziada...

Brincadeira!
Mas se você tiver aí mais uns minutinhos disponíveis, aceite essa humilde dica.

É a versão Sulina da Black Water.
Vai lá...

quarta-feira, julho 25

Instantes...

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros.

Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.

Seria mais tolo ainda do que tenho sido, na verdade bem poucas coisas levaria a sério.

Seria menos higiênico.

Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.

Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da vida, claro que tive momentos de alegria.

Mas se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.

Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos, não percas o agora.

Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas.

Se voltasse a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono.

Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente.

Mas já viram, tenho oitenta e cinco anos e sei que estou morrendo...

Do sábio poeta "Mário Quintana"

terça-feira, julho 24

Deu no jornal de ontem...

Nem mesmo a chuva e o frio desse domingão impediu que ladrões agissem na Praia Mole e também no Moçamba. Pelo menos dois veículos foram furtados em um dos estacionamentos na Mole.

Oportunistas, os criminosos aproveitaram que os surfistas estavam na água para limpar os carros. De um dos veículos (Paraty) levaram um rádio toca-fitas, pares de tênis, e mais uma mochila com acessórios. Do outro (Gol), além de um som auto-motivo MP3, furtaram óculos de sol, telefone celular, duas calças jeans, pares de tênis, uma jaqueta, carteiras com documentos, cartões de crédito e molho de chaves.

Segundo os policiais, as vítimas chegaram a delegacia da Lagoa da Conceição vestidos somente com a roupa de borracha e tremendo de frio. A Polícia Militar da base da Avenida das Rendeiras foi acionada, porém não conseguiu localizar os larápios.

De acordo com os policiais, é comum, mesmo no inverno, os furtos de veículos nas praias do Leste da Ilha. Os ladrões provocam outros prejuízos ao destruir a fechadura da porta, o painel (para retirar o som) e a pintura do carro. No verão é ainda pior, os ladrões levam inclusive o próprio carro.

E eu completo:

Há 10, 15 anos atrás no Moçamba, íamos pegar onda e deixávamos o carro com os vidros abertos, chave na ignição, documentos no porta-luvas... E não faz muito tempo assim. Do jeito que estão as coisas em nossas praias, se bobear eles levam até a viatura dos PMs.

segunda-feira, julho 23

Alimento da alma...

Revirando o baú, numa viagem ao túnel do tempo, encontrei essa imagem em p&b da Lagoa da Conceição. Na foto tirada no final dos anos 60, ainda não havia casas, prédios, muito menos sujeira, cachorros na rua, lixo e essa tal de poluição. Na Lagoa em estado bruto não há nada.

O tempo foi mesmo cruel e o homem tratou logo de mudar rapidamente esse cenário. Primeiro vieram os cariocas, depois os gaúchos, mais tarde paulistas e agora gente de todos os lugares do mundo.

A visão lá do alto do morro, a caminho das praias mudou é bem verdade, porém, mesmo após todos esses anos, e com gente chegando e construindo em tudo quanto é canto, a Lagoa continua linda.

Já dizia o poeta Zininho, em seu Rancho de Amor a Ilha, marchinha que se tornaria anos mais tarde o hino da Cidade de Florianópolis “...Tua Lagoa formosa, ternura de rosa, poema ao luar. Cristal onde a lua vaidosa, sestrosa, dengosa, vem se espelhar...”

Dia ou noite, sol ou chuva, tanto faz, o visual ainda é inesquecível e de tirar o fôlego, e fonte de inspiração para uma boa session de surfe logo ali na frente...

domingo, julho 22

Lagarteando por aí...

Uma nova semana está começando. E pra variar, uma nova ondulação de sul (de novo) com boa consistência deve lamber o litoral brasileiro nos próximos dias. Essa ondulação de sul, que passa ao largo da costa catarinense, entra em cheio nas praias da região sudeste. Melhor para os paulistas e cariocas. Ondas de leste por essas bandas, daquelas que entram junto aos costões, nem pensar.

Uma coisa que tem me chamado a atenção nesses últimos dias tem sido a temperatura da água. Como anda fria, gelada, a danada, mesmo com a corrente de sul predominando. Isso sem falar na temperatura do ar que não alivia. Nessa semana que passou as manhãs foram de temperaturas muito baixas. Entre 6 e 7 da matina, os termômetros oscilavam entre 8º e 10ºC. Cair n’água não tem sido tarefa muito fácil nem para os mais fissurados.

Agora, mudando de saco pra mala, navegando pela rede encontrei um site chamado Lost Art do casal de jornalistas/fotógrafos Louise Chin e Ignácio Aronovich. Ambos já tiveram suas fotos publicadas em jornais e revistas daqui e dos istéites e hoje produzem um material de primeira. São imagens de viagens, diversão, esportes, aventura, e de estilos de vida mundo afora.

Vale uma visita bem demorada. Aliás, várias. Só não vai se perder por lá...

quarta-feira, julho 18

Tubos, tubos e mais tubos...

Já escrevi aqui no Alohapaziada dias desses: Fluir, Alma, Hardcore, Trip, Juice, Drop, Venice, eu tenho todas. Sou colecionador. Mas a cada edição eu me decepciono. É sempre o mesmo blá-blá-blá. Ando farto ultimamente!

Ainda bem que “os cariocas” inventaram algo de novo e o melhor: de grátis! No momento não tem pra ninguém. As melhores imagens do surfe no Brasil num simples click. Dizem por aí que surfista não lê mesmo, que gosta só de ver as fotos...

Nesta edição da Black Water um festival de tubos alucinantes. São direitas, esquerdas buracos, pra lá de tubulares, em Saquarema e em Ipanema. Não perde tempo não, vai lá.

Agora uma coisinha: É impossível que no Rio de Janeiro só existam o Raoni Monteiro e o Trekinho (o cara tá em todas) como bons surfistas para serem fotografados. Olha o lobby carioquês aí, gente...

terça-feira, julho 17

A descoberta de Tavarua...

1978.

Dois surfistas se encontram por acaso num esfumaçado pub de Koh Samui, uma pequena ilha da costa leste da Tailândia, e começam a conversar. Roger é um australiano apaixonado por aventuras, que saiu de Perth aos 17 anos e nunca mais voltou. Aproveitou o tempo na estrada para surfar algumas das melhores ondas do mundo e fazer uma pequena fortuna comercializando, na Califórnia, objetos exóticos do Oriente. Amigo de Tito Rosemberg, ajudou a descobrir boas direitas no Marrocos e no Senegal, mas o tesouro de sua vida ainda estava para ser desenterrado.

Capitão Mike é um rico cigano dos mares. Dono de um veleiro de 42 pés, gastava a herança deixada pelos pais cruzando oceanos e surfando ondas alucinantes, junto com sua mulher. É o típico americano fanfarrão, adepto de um bom copo de cerveja e de boas risadas. Dez cervejas Bitangs mais tarde, o capitão, já enrolando a língua, enveredou por um assunto que iria mudar o rumo das destinações surfísticas.

– Deixa eu te fazer uma pergunta, Roger. Qual é a melhor esquerda do mundo?
– Ora, capitão, essa é fácil, Pipeline sem dúvida!
– Pois é isso que você pensa?

Eu já surfei sozinho, a melhor esquerda do mundo! A bancada de coral é de deixar um cara louco. Longas linhas, lisas, grandes e tubos enormes. Eu não agüentava mais guardar esse segredo. Eu tinha de contar para alguém. Mas se você acha que eu vou te dizer onde é que fica essa onda, pode ir tirando o cavalinho da chuva.

Mas a cerveja acabou falando mais alto. E o capitão Mike, depois do que parecia ser o milésimo copo, acabou entregando o pico, segundo antes de embarcar no tranqüilo mundo dos sonhos que só bêbados de carteirinha conhecem. Então essa fantástica onda fica em Fiji, pensou Roger, já na manhã seguinte. Mas onde fica Fiji? São mais de 300 ilhas, quase todas com acesso dificílimo.

Foi ai que ele avistou Marion, a mulher do capitão, andando pelo ancouradoro. Roger estava com o mapa em mãos e só teve que estendê-lo.

– Bom dia Marion. Mike chegou com vida no barco na noite passada?
– Já me acostumei com as bebedeiras dele. E você, vai para onde depois de Koh Samui?
– Pra te falar a verdade, tava pensando nisso mesmo. Acho que vou dar uma chegada em Fiji. O Mike me falou de uma certa esquerda ontem á noite, mas estávamos tão bêbados que já não consigo lembrar onde exatamente era. Será que você poderia apontar para mim no mapa? Não tô a fim de acordar o capitão...

Quarenta e oito horas depois, Roger aterrizou em Suva, capital de Fiji, na Ilha Viti Levu. Munido de um detalhado mapa do arquipélago, uma mochila e duas pranchas, o australiano deu o segundo passo em direção da maior aventura da sua vida. Logo no aeroporto percebeu que os fijianos eram o dobro do tamanho dos balineses e ainda maiores do que os taitianos e havaianos, seus primos polinésios. “Espero nunca me meter em encrenca com essa galera. Eles não parecem amigáveis”, pensou Roger, enquanto retirava as pranchas da esteira.

E não são mesmo. Ao contrário do resto do terceiro mundo, os habitantes de Fiji são muito orgulhosos para lamber as botas de turistas e não levam desaforo para casa em hipótese alguma. Eles são enormes e tem cara e fama de mau. Mas como Roger era cobra criada na estrada, ignorou as vibrações negativas e se concentrou em tentar chegar em Lautoka. Depois de seguir a desgastante rotina de táxis, ônibus, balsas e barcos, consegui chegar em Lautoka, ilha vizinha de Tavarua, o último elo com a civilização. Como sempre acontece nessas roubadas, Roger fez amizade com o motorista do único táxi da vila, que o levou até o chefe do povoado para que pedisse permissão para desembarcar em Tavarua. O chefe se chamava Rabuka e já estava ficando desconfiado com tanto interesse numa ilhota que sempre estivera abandonada e que não passava de ninho de cobras do mar. Já era o segundo branco que pedia permissão pra chegar em Tavarua em menos de um ano. Algo devia estar acontecendo. Pouco importa, contando que paguem, concluiu Rabuka.

Roger, prevenido, quis acertar uma taxa que lhe desse o dinheiro de volta caso tudo não passasse de obra da imaginação do capitão Mike. O chefe foi irredutível, e exigiu mil dólares adiantados para que Roger pudesse pisar na Ilha, caso lhe agradasse, poderia ficar quanto tempo quisesse. A brincadeira já havia ido longe demais e, Roger não tinha ido parar em Lautoka, milhares de quilômetros de seu ponto de partida, para ser barrado no baile. Mesmo contrariado, resolveu pagar para ver.

Orientado pelo taxista, um sujeito dono do sorriso mais amarelo de toda Polinésia, Roger comprou mantimentos para si e para dois fijianos, que deveriam levá-lo até Tavarua e ajudá-lo a construir o bangalô de madeira, onde iria viver. Roger chegou em Tavarua e não acreditou. Esquerdas perfeitas rolavam em duas bancadas. Uma bem em frente da areia e outra lá fora em alto-mar. O capitão Mike realmente sabia do que estava falando. Aquilo era um tesouro, uma descoberta que, pelo menos aparentemente, apenas os dois dividiam.

Os swells eram fartos e o surfe ajudava a passar os dias. Os dois fijianos eram jovens e fortes, e não tinham o mesmo ardor de Roger pelas ondas. Eram também extremamente fechados e agressivos, e faziam questão de deixar o australiano de fora das conversas. Roger, por sua vez, tentando conquistar a amizade deles, se ofereceu para ajudar nos trabalhos da ilha, de construir o bangalô, cavar o reservatório de água, a fossa e etc... Eles aceitavam passivamente a ajuda e instruíram Roger nas tarefas do dia. Roger começou ajudando entre caídas, mas logo os fijianos lhe cobraram mais empenho e mais horas de trabalho. Roger não gostou e o clima ficou pesado.

Era a deixa que os fijianos precisavam para instaurar uma nova ordem na ilha – e que só teria fim com a fuga de Roger. Ele foi feito escravo e suas coisas, inclusive as pranchas foram confiscadas pelos dois. Roger só conseguiu sair dessa enrrascada quando, depois de vinte dias de trabalhos forçados, avistou um veleiro e, aproveitando-se de um momento em que a dupla havia ido para o outro lado da ilha, roubou uma das pranchas e remou desesperado, gritando por ajuda.

Acompanhados pelos tripulantes do barco, que possuíam armas, Roger desembarcou em Tavarua pela última vez e recolheu seus pertences. Quando chegou a Califórnia, a noticia de sua aventura já tinha corrido meio mundo. As revistas Surfer e Surfing voaram para entrevistá-lo, mas Roger desmentiu qualquer insinuação de ondas perfeitas em Fiji e afirmou ter sido lenda de marinheiro a prisão em Tavarua. Ele tinha uma ótima razão para não contar a verdade. O tesouro estava lá quebrando perfeito nesse exato momento, e seria seu se quisesse. Roger tinha certeza de que os dois fijianos agiram sem o consentimento de Rabuka. Sabia também que tinha todas as chances do mundo em arrendar Tavarua, pois o chefe tinha uma queda toda especial por notas verdes. Notas que ele tinha. Bastava vender sua parte na loja de móveis orientais em Santa Bárbara e transformar Tavarua num hotel de surfe nos moldes do recém inaugurado Grajagan Surf- Camp, no sudeste de Java. Seria um sucesso, ele não tinha a menor dúvida. Roger só precisava se manter de bico calado e de um tempo para organizar as finanças.

Um dia, porém, Dave, seu melhor amigo, o encostou na parede e disparou: Eu sei que você está mentindo. “Te conheço o suficiente pra saber quando você está falando a verdade. Aquilo tudo aconteceu mesmo, não é!?”. Roger não resistiu ao apelo e contou, de uma só vez, tudo o que havia vivido dois meses atrás. Falou do encontro com o capitão em Koh Samui, de Rubaka, dos fijianos, das ondas, da prisão, da fuga e dos planos do surf-camp.

Contou tudo, e o relato emocionado só terminou no dia seguinte, com o nascer do sol. Dave não conseguia acreditar que algo assim pudesse ter acontecido. Não em pleno século XX. Os dois se abraçaram e se despediram. Roger acenou para Dave, reiterou seu pedido de segredo e sentiu-se aliviado por ter finalmente contado uma coisa tão forte quanto a sua descoberta de Tavarua. Dave afinal era seu melhor amigo.

Seis meses se passaram e Roger ainda estava às voltas com a papelada da venda da sua parte na sociedade. Estranhava a ausência prolongada de Dave que havia ido visitar uma antiga namorada na Itália. Mas as coisas nem sempre são como parecem. E Roger foi obrigado a aprender da maneira mais difícil: sendo traído.

Ao folhear a Surfer, Roger custou a acreditar que estivesse lendo num pequeno anúncio de ¼ de página uma oferta de estadia no recém inaugurado surf-camp da Ilha de Tavarua – a sua Tavarua. Foi só aí que ele entendeu a razão do sumiço de Dave. Ligou pro telefone anunciado e a voz de Dave soou do outro lado da linha. Desligou. Sua mente explodindo de indignação e ódio. Entrou no carro e dirigiu sem parar até San Diego, onde ficava o escritório. Dave não estava no momento, mas se ele quisesse poderia esperar. Roger esperou. Quando Dave entrou na sala e os dois se encontraram, os olhos revelaram dor pela amizade perdida. Roger levantou e, sem dizer uma palavra, deu uma porrada em Dave, que se esparramou por cima da mesa da secretária. Dave nada disse. O pessoal do escritório não ofereceu qualquer tipo de resistência na saída de Roger. Eles haviam captado a profundidade da desavença. Roger bateu a porta do carro e rumou novamente para Morro Bay, onde morava. “A vida não passava de um jogo”, pensou. E era ele o perdedor.

Sua vida nunca mais foi a mesma depois disso. Roger vendeu tudo e saiu pelo mundo à procura de novas ilhas e paraísos perdidos, mas não obteve sucesso. Hoje ele vive no sul da Suécia, numa pequena e gelada vila que em nada se parece com uma ilha no Pacifico Sul e não surfa mais. Certas coisas só acontecem uma vez na vida!

Texto: Fred'Orey
Reprodução Revista Fluir, ano 9 nº7 – edição 81.

domingo, julho 15

Pra começar bem a semana...

E que tal o chocolate desse domingo?

Ganhar de 3x0 não sendo os favoritos. A "selexotan" marcando e criando. E o goleiro Doni – que nas horas vagas é o vocalista da banda KLB, fazendo belas defesas? Isso não é todo dia e também não é prá qualquer um.

Assistir pela TV os “hermanos” ser derrotados, e com um gol contra, realmente não tem preço!

E não é que a seleção “VagaDunga” resolveu jogar nesse domingo?
Azar o deles!
Não chores por mim, Argentina!

Dúvida cruel...

E o futebol volta a ganhar espaço aqui no Alohapaziada. Não podia deixar passar batido mais um jogão nesse domingo. Pois é hoje, lá em Maracaibo na Venezuela, nas terras de um tirano-ditador. Brasil e Argentina fazem mais uma final de Copa América. A seleção mais “VagaDunga” que se tem notícia, formada em cima da hora, com um monte de jogadores meia-boca escalada por empresários, e até agora jogando um futebol também muito meia-boca conseguiu chegar.

E agora?

Torcer para um time com 4 cabeças de área (Josué, Mineiro, Elano e Julio Batista), que só marcam e que nada criam, a ainda com um goleiro prá lá de esquisito, ou vibrar com um meio-campo formado de estrelas, com um toque de bola refinado comandado pelo carequinha Verón, tendo a classe de um Riquelme e ainda Messi e Carlito Tevez lá na frente?

As cores azul e branco, já disse outra vez aqui, não me atraem nem um pouco. São de times que eu definitivamente não consigo torcer. Mas também se a “Selexotan” conseguir o título jogando lá trás, recuada, como tem sido nos últimos jogos, aí sim será decretado o fim do nosso mágico futebol.

Juca Kfouri no seu blogue comenta que será o jogo do “Resultado” contra a “Fantasia”. Fantasia que já nos pertenceu um dia, lá por volta de 82.

Enquanto procurava uma imagem (foto) para ilustrar esse textinho, fiquei sabendo que as argentinas venceram as brasileiras de 21 X 0 no hóquei de grama, no Pan do Rio de Janeiro. É hora da vingança do domingo, mesmo com Doni, Maicon, Wagner Love, Afonso e Fernando.

Que saudades do Cerezo, Falcão, Zico e Sócrates...

quarta-feira, julho 11

WCT Brasil ameaçado...

Ontem, quarta-feira, dia 11, conversei demoradamente com Xandi Fontes, presidente da Fecasurf que me passou detalhes sobre a etapa brasileira de surfe profissional programada para acontecer no fim de outubro, início de novembro na praia da Vila em Imbituba.

Informações dão conta que não tem nada acertado com a cervejaria Schincariol – responsável e detentora do nome Nova Skin. Até ontem, a agência que cuida da conta da Nova Schin não havia demonstrado interesse em fechar o contrato de patrocínio para esse ano. A Billabong que foi a apresentadora do evento no ano passado também pulou fora.

Xandi comentou que o Teco (Flávio Padaratz), está nesse momento na África do Sul, mantendo contatos com os diretores das marcas Rip Curl e Quiksilver na tentativa de bater o martelo com alguma das gigantes do surfwear mundial. Por enquanto não há nada de concreto.

O Governador de Santa Catarina Luiz Henrique da Silveira já confirmou apoio, bem como o prefeito de Imbituba garantiu novamente o suporte para a realização da etapa. Porém tudo depende de uma cota maior – que banque os custos relativos a premiação e o promocional – para que a etapa seja confirmada.

Nos bastidores tem muita gente torcendo para que as disputas aconteçam em São Paulo ou até mesmo no Rio de Janeiro, hipótese descartada pelos promotores. “A situação tá muito complicada. Ninguém quer mais investir no surfe. Mas o WCT vai rolar em Santa Catarina. Pode até ser com uma estrutura menor, mas daqui não sai” me disse Xandi...

Seria lamentável para o Brasil perder essa etapa. Imagine a quantidade de contratos, taxas, e coisas pendentes caso não tenhamos as disputas na Vila. Agora que ela precisa ser repensada, disso não tenho dúvidas.


A mensagem dentro da garrafa...



Essa banda embalou muitas barcas de surfe mundo afora. Na época, íamos à praia numa variante na cor verde-caganeira ano 72 do meu amigo Jefferson Gabiru – que era o único que sabia dirigir. No toca-fitas da caranga só davam eles. A música vibrante contagiava a todos.

Engraçado perceber que tanto nas antigas como nos dias de hoje o som ainda continua sendo muito atual. Eles deram um tempo e voltaram para uma session histórica no “Live Earth”, em Nova York, no último sábado 07.07.07.
Quem viu o show ao vivo na TV garanto que delirou. Quem não viu ainda é só relembrar.

sexta-feira, julho 6

Eu matei Mark Occhilupo...

Dias difíceis. Já são três com o corpo moído. Uma gripe forte me pegou de jeito. Não sinto vontade de fazer absolutamente nada. Embaixo das cobertas apenas sinto o tempo passar. Sair de casa às 6 da matina tem sido um ato de bravura.

Vou até a Joaca, confiro o mar na Mole, de lá faço os flashes pra rádio e volto pra casa louco por uma cama. Ontem foi o pior deles, com febre de 39-40 graus. As más línguas dizem que é a gripe Renan Calheiros: não sai de jeito nenhum.

Tô querendo escrever algo para atualizar o blogue, mas não consigo organizar meus pensamentos. Tá complicado. Nos próximos dias vou contar aqui no Alohapaziada um episódio tragi-cômico-surfístico, com repercussão internacional (seria cômico não fosse trágico, ou vice-versa), sobre a “morte” por mim anunciada do surfista Mark Occhilupo - o cara de cavalo.

É meninos. Eu matei Mark Occhilupo...

quarta-feira, julho 4

11 em 12...

E não é que passou voando...

Hoje, quarta-feira, dia 3 de julho, o blogue “Alohapaziada” completa seu primeiro ano. E como passou rápido! Parece que foi ontem - ainda estávamos em ritmo de Copa do Mundo - quando coloquei o primeiro texto no ar ainda sem a menor noção de como as coisas funcionavam.

Penei muito para entender como se mexia e se usavam as ferramentas, como se encaixavam os links e como se blogava os vídeos tirados lá do You Tube. Por inúmeras vezes tive que recorrer aos camaradas Miguel e Lucas que não me deixavam na roubada.

Inspirado nos blogue "Goiabada" do carioca Julio Adler – e do "Pierre Alfredo", resolvi há exatamente 365 dias me enveredar por essas bandas também. Posso dizer que foi, e está sendo muito divertido.

A idéia inicial continua sendo a que me move até esse exato momento: trocar informações, experiências e fazer novas e boas amizades. Nesses doze meses de Alohapaziada foram onze mil acessos com diversos comentários junto aos posts.

Como não sou um cara muito chegado à festinhas e nem baladas, informo desde já que não preparei nenhuma comemoração. Mas fica aqui registrado meus agradecimentos aos leitores, colaboradores e parceiros blogueiros.

Valeu!

segunda-feira, julho 2

JACQUE ninguém diz nada...

Jacque na sua Barra da Lagoa leva a tocha do Pan.
Ela venceu etapas em todos os continentes por onde passou.
Ganhou no Havaí – o templo sagrado.
Foi vice-campeã no WQS.
Também foi campeã desse mesmo circuito em 2000.
No último mundial ISA trouxe das águas geladas da Califórnia três medalhas.
Ah! E também já foi vice-campeã no WCT de 2002.

E você aí, sabe me dizer qual o surfista brasileiro chegou mais perto do tão sonhado título mundial no surfe profissional?

Incrível constatar que mesmo após onze temporadas no Tour, Jacqueline Silva pouco apareceu na grande mídia. Lá na Austrália, logo no início dessa temporada, o repórter Kiko Menezes que cobria as etapas para a Sportv em suas reportagens rasgava elogios a performance da cearense Silvana Lima. Para ele, Silvana era a bola da vez e favorita ao título nesse ano. É sempre assim. A sensação é de já ter visto esse filme anos atrás só que a candidata era a Tita. A catarinense novamente pouco apareceu.

Tudo bem pensei, afinal Kiko conhece de surfe o mesmo que eu sobre badminton. Mas então o que dizer das revistas brasileiras ditas “especializadas” que dão de ombros para seus feitos e conquistas? Em seus editoriais mencionam a importância de produzirmos um campeão mundial, mas na prática a ajuda é pouca e não é bem assim que funcionam as coisas. Só pra lembrar, Jacque jamais foi capa em nenhuma delas e das três etapas que disputou na Austrália fez duas finais vencendo uma.

Manezinha da Barra da Lagoa, de jeito simples, Jacque deve ser mesmo a grande culpada de toda essa estória, pois não faz lobby, coisa comum nesse meio, e também não vive em rodinhas com outros surfistas competidores, juízes, fotógrafos e organizadores. Jacque vive na dela sem muito alarde. Talvez isso explique. Afinal são nessas panelinhas que muitos se dão bem ou mal...

domingo, julho 1

Aperitivo...

Dia 11 está chegando!
Que tal fazer como Shaun?
É só botar no trilho e acelerar.
Ah! E tenha um bom início de semana...