quinta-feira, março 26

Dica 4 - Música. (e + uma histórinha).

Como era difícil ser moleque nos anos 80. Pra quem pegava onda então... Eu vivi todo o drama. Conseguir uma carona para praia era um parto. No meu tempo de garoto (não faz muito tempo), eram poucos os amigos que tinham carteira de motorista. Contava-se nos dedos de uma mão os pais que liberavam o carro nos fins de semana para que pudéssemos ir à praia. Tudo era combinado já no meio da semana, e se usava um sistema de rodízio, que funcionava mais ou menos assim: quem havia ido na semana anterior rodava na seguinte pois a concorrência era grande.

Lembro que chegamos a combinar de economizar uma grana das mesadas para comprar um Dodge-Dart 72, para que todos pudessem ir juntos pro mesmo pico. A barca já tinha até nome. Iria se chamar “crowd” e ter as portas e o capô pintados. Foi mais uma das muitas idéias esdrúxulas que logicamente não vingaram.

Sei dizer que quando alguém lembrava de passar lá em casa para me dar uma carona era uma festa. O Aloísio Alemão tinha uma Kombi branca com a lataria toda podre. As portas eram amarradas com uma cordinha e o assoalho nem vou comentar, pois praticamente não existia. A kombosa era guerreira e nunca nos deixava em roubadas. Com ela desbravamos Balneário Camboriú, Brava, Atalaia e Navegantes. Os buracos na 101 eram observados "in loco", "on board". Ela durou pouco tempo. Foi trocada por um Fiat Panorama novo em folha. Nem tanto...

O Charles tinha um Chevette, pneus tala-larga, o conhecido trovão azul. Os bancos descosturados, com a espuma rasgada, sem falar na fumaça cinza e catinguenta que vinha lá do motor e inebriava o ambiente. As janelas geralmente fechadas. Aquilo mais parecia uma sauna. Um verdadeiro pavor. O cara apaixonado pelo AC/DC, se amarrava em ouvir o som esgoelado e no último volume. Como eu sofria, apertado, no banco de trás, com aquela barulheira ensurdecedora e o cheiro de óleo diesel queimado. Mas não tinha jeito. Era pegar ou largar. Ficar em casa nem pensar.

Tinha também o Jorge Costa que mesmo sem habilitação tinha um certo arrêgo com a dona Nilza. O nosso acerto com ele e com a "véia" era lavar e encerar o fusca quando chegássemos da praia. E mesmo cansados do dia inteiro no mar tínhamos que dar aquela geral na fusqueta, pois a mãe do Jorge inspecionava em detalhes e ainda nos dava uma dura quando o serviço ficava meia-boca.

Outro parceiro era o Martinez, um camarada que morava no centro da cidade e que de vez enquanto me botava na barca. Seu Fiat 147 estava em tudo quanto é canto.

Mas geralmente a nossa salvação era o Gabirú. O mais velho da turma usava um Fordeco 56 que durante a semana era utilizado na fazenda do seu pai. Embaixo da capota preta, a raça ia sentada nuns bancos improvisados de madeira e sacolejando pra todos os lados. A vida era dura, porém muito divertida. Gabirú era o mais ponderado, mais tranqüilo e liberava o toca-fitas pra quem tivesse um som legal. Era apertar o play e cair na estrada. Quando a banda ou o cantor ou a música nova não agradava aos ouvidos da maioria, a gritaria era grande. Abríamos a janela e jogávamos a fita fora, sem dó, sem piedade.

Um primo meu tinha um LP com aquelas coletâneas de bandas pouco conhecidas por aqui mas com o título sucessos internacionais. Escutei o som e de cara me amarrei. Aquilo sim era novidade. Agora eles iriam conhecer aquela sonzeira, pensei. Numa das faixas trazia Boney M. Tinha também um "tal" de Oingo Boingo e Talking Heads. Num total de 12 músicas uma delas dos também desconhecidos 10CC. Pois bem, durante a semana comprei uma Basf 90, gravei o disco na integra e esperei o fim de semana chegar.

Tudo pronto, fordeco lotado, tirei a tal fita da mochila e botei pra rodar. Não deu um minuto, nem tocou uma música inteira e neguinho botou o terror. Barulheira na caçamba. Tira essa merda! gritou um lá da cachorreira. E não adiantou argumentar. Nem deram chance, o novo som foi logo gongado. Janela aberta, fita zerinho jogada fora pelo caminho, para o meu desespero.

Há anos não ouvia falar dos caras do 10CC. Nem sabia de onde eram, quem eram, e o tipo de som que faziam. Só conheci aquela música que nem chegou a tocar direito. Dias desses lembrei do som e achei esse vídeo (tosco é verdade), bem das antigas, no youtube.

Dá uma ouvida aí e vê se a fita não merecia vida mais longa. E mais uma dica: Feche os olhos e sinta o som...

4 comentários:

Sandro Murara disse...

Maurio, meu camarada...a contar por essa musica do 10CC, acho que a tal Basf90 teve o final que merecia, rsrsrs. Talvez os outros hits salvassem a vida da infeliz mas pelo visto não deram mais uma chance pra ela.
No mais, acho legal essas histórias das antigas. É sempre divertido pra quem conta e pra quem ouve. Abraço.

Alexandre Flores Torrano disse...

Injustamente jogada Maurio.
Ah,ah,ah...
Alguém deve ter ficado feliz da vida de achar a Basf90. Era cromo ou metal?
Abraço

Surf4ever disse...

Post CLÁSSICO.
Das várias carangas citadas aí só faltou a tal da Brasília verde (ou amarela?) caganeira que tu já citasse em dois ou três posts!
Quanto à fita, se tu tivesses deixado essa música do 10CC para o final, de repente teus brothers tinham dado uma chance...kkkkk
Altas fotos.
Abraço!
Gustavo

Maurio Borges disse...

Sandro, Tora e Gustavo.
Não acredito que vocês não gostaram do som? Vocês estão é muito saidinhos...

A foto da tal Variante na cor verde caganeira acho que ninguém tem. Acho que nem máquina fotográfica existia na época... Faz tempo!

MB