Lendo o blogue do camarada Gustavo nesse domingão, fiquei sabendo que o guitarrista Joe Satriani irá realizar uma série de shows para celebrar 20 anos do lançamento do seu cd Surfing With The Alien. Todas as faixas desse cd, muito cultuado pela galera praieira, fizeram parte da trilha sonora do filme Gripping Stuff, produzido pela marca de antiderrapantes Gorila Grip.
Ao ler o post, lembrei-me de um episódio tragicômico que aconteceu em 87, há exatamente 20 anos. De posse do filme Gripping Stuff procurava um lugar para exibí-lo. Nessa época, apresentações de filmes de surfe eram raras por aqui. Fui então procurar o diretor do Teatro Álvaro de Carvalho. Para ele surfe ainda era sinônimo de encrenca. Na ocasião tive que persuádi-lo e me responsabilizar por todos os problemas que viessem a ocorrer.
E após muita negociação ele aceitou liberar o espaço com uma série de restrições. Ninguém podia fumar cigarrinho e muito menos cigarrão. Estava expressamente proibido colocar os pés nas poltronas e nenhum tipo de consumo interno, seja de cerveja, refrigerante ou pipoca, poderia acontecer nas dependências do TAC. Ponderações feitas, acordo firmado, teatro liberado.
A notícia de que haveria exibição do filme Gripping Stuff logo se espalhou e não se falava noutra coisa durante a semana na cidade. No dia da apresentação parecia que todo mundo estava lá. Muita fila, empurra-empurra, correria pra comprar os ingressos. Quando as portas do teatro se abriram, uma multidão o tomou de assalto. Era um bando de gente delirando e aos gritos.
Apavorado, o diretor de longe observava as ações. Em segundos as poltronas foram ocupadas. Gente pelos corredores, sentados no palco em frente ao telão, acomodados nas laterais do teatro. Não cabia mais ninguém e, ainda, no lado de fora uma multidão empurrava a porta principal querendo invadir.
Quando subi ao palco para tentar acalmar o público, mal tive tempo para falar qualquer coisa. Lá do alto, da área dos camarotes, um cesto de lixo cheio de papel higiênico borrado foi arremessado e, antes que pudesse se espatifar, sobre as cabeças da galera sentada nas poltronas do andar térreo todo o conteúdo ficou pendurado no lustre gigante. A multidão insandecida, uivava, assoviava e gritava fazendo um barulho infernal.
Agora imagine que cena bizarra: o filme prestes a começar, teatro superlotado, e uma multidão olhando para cima, vendo, pendurados no lustre, um monte de papel higiênico cagado. Foi uma comédia. E eu ali, sério, sozinho no palco, de microfone na mão, agradecendo o apoio da diretoria do TAC, a presença do público e falando das restrições de comportamento. A vaia comeu!
Quando as luzes apagaram e o filme começou, com as imagens de uma série de ondas marchando perfeitas numa água azul turquesa e quebrando no terceiro reef, em Pipeline, ao som de Circles, de Joe Satriani, todos acompanhavam as cenas batendo com os pés no piso de madeira do teatro, que parecia prestes a vir à baixo.
Era uma época divertida e de poucos compromissos. O surfe profissional engatinhava. As bermudas e os calções que usávamos tinham cores em tons cítricos de laranja, rosa e verde-limão. Eram chamativos aos extremos. As pranchas também eram coloridas e cheias de adesivos colados próximos ao bico. Ter um óculos da marca Oakley, o mesmo que o Tom Carrol usava nos anúncios das revistas gringas, era estar na moda.
Depois daquele dia, o tradicional Teatro Álvaro de Carvalho, localizado no coração da cidade de Florianópolis, não foi mais o mesmo. E nem o diretor...
Ao ler o post, lembrei-me de um episódio tragicômico que aconteceu em 87, há exatamente 20 anos. De posse do filme Gripping Stuff procurava um lugar para exibí-lo. Nessa época, apresentações de filmes de surfe eram raras por aqui. Fui então procurar o diretor do Teatro Álvaro de Carvalho. Para ele surfe ainda era sinônimo de encrenca. Na ocasião tive que persuádi-lo e me responsabilizar por todos os problemas que viessem a ocorrer.
E após muita negociação ele aceitou liberar o espaço com uma série de restrições. Ninguém podia fumar cigarrinho e muito menos cigarrão. Estava expressamente proibido colocar os pés nas poltronas e nenhum tipo de consumo interno, seja de cerveja, refrigerante ou pipoca, poderia acontecer nas dependências do TAC. Ponderações feitas, acordo firmado, teatro liberado.
A notícia de que haveria exibição do filme Gripping Stuff logo se espalhou e não se falava noutra coisa durante a semana na cidade. No dia da apresentação parecia que todo mundo estava lá. Muita fila, empurra-empurra, correria pra comprar os ingressos. Quando as portas do teatro se abriram, uma multidão o tomou de assalto. Era um bando de gente delirando e aos gritos.
Apavorado, o diretor de longe observava as ações. Em segundos as poltronas foram ocupadas. Gente pelos corredores, sentados no palco em frente ao telão, acomodados nas laterais do teatro. Não cabia mais ninguém e, ainda, no lado de fora uma multidão empurrava a porta principal querendo invadir.
Quando subi ao palco para tentar acalmar o público, mal tive tempo para falar qualquer coisa. Lá do alto, da área dos camarotes, um cesto de lixo cheio de papel higiênico borrado foi arremessado e, antes que pudesse se espatifar, sobre as cabeças da galera sentada nas poltronas do andar térreo todo o conteúdo ficou pendurado no lustre gigante. A multidão insandecida, uivava, assoviava e gritava fazendo um barulho infernal.
Agora imagine que cena bizarra: o filme prestes a começar, teatro superlotado, e uma multidão olhando para cima, vendo, pendurados no lustre, um monte de papel higiênico cagado. Foi uma comédia. E eu ali, sério, sozinho no palco, de microfone na mão, agradecendo o apoio da diretoria do TAC, a presença do público e falando das restrições de comportamento. A vaia comeu!
Quando as luzes apagaram e o filme começou, com as imagens de uma série de ondas marchando perfeitas numa água azul turquesa e quebrando no terceiro reef, em Pipeline, ao som de Circles, de Joe Satriani, todos acompanhavam as cenas batendo com os pés no piso de madeira do teatro, que parecia prestes a vir à baixo.
Era uma época divertida e de poucos compromissos. O surfe profissional engatinhava. As bermudas e os calções que usávamos tinham cores em tons cítricos de laranja, rosa e verde-limão. Eram chamativos aos extremos. As pranchas também eram coloridas e cheias de adesivos colados próximos ao bico. Ter um óculos da marca Oakley, o mesmo que o Tom Carrol usava nos anúncios das revistas gringas, era estar na moda.
Depois daquele dia, o tradicional Teatro Álvaro de Carvalho, localizado no coração da cidade de Florianópolis, não foi mais o mesmo. E nem o diretor...
4 comentários:
grande maurio, falando em cultura surfe, escrevi um pouco sobre um surfista brasileiro fundamental, vai lá no pão na chapa, abraço, zé
cena de filme de Fellini, ah,ah,ah...
Máurio, é por isso que essa parada de BLOGAR vicia! É muito bom ler essas coisas, cara! Imagino essa raça alucinada, ainda com o Hang Loose épico fervendo em suas mentes, quebrando tudo no TAC! Pra ti tava mais pra "Hora do Pesadelo" do que pra "Gripping Stuff"! Como disse o Tora, isso aí dava um roteiro de filme!
Valeu!
Gustavo
eu estava lá...foi irado..todo mundo alucinado..bons tempos que não voltam mais...quem viveu floripa assim, viveu..agora é só violência, destruição e vamo parar por aqui!!!
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