quinta-feira, dezembro 7

Ainda nessa onda revival...


A foto aí em cima é de um momento ímpar do surfe carioca. Foi tirada em meados dos anos 70 nas areias de Ipanema no Rio de Janeiro. O Brasil respirava o ar pesado vindo da revolução de 64, do governo militar, da ditadura e do AI-5... O pier era um emissário submarino que a prefeitura carioca construíu para levar o esgoto da cidade até o alto-mar. As areias recolhidas pelos tratores formavam dunas.

Virou o ponto de encontro dos mais descolados, e onde tudo ou quase tudo era permitido. Famosos, anônimos, se misturavam aos surfistas, artistas, poetas, músicos, políticos, numa verdadeira “Torre de Babel” num mundo à parte. Estávamos no auge da contra-cultura, início do movimento hippie por essas bandas...

Nela aparecem Zeca Proença, Vandherbilt e Pepe Lopes. E quem quiser conferir outros momentos congelados daquela década e saber um pouco mais sobre o que significou o Píer para os cariocas basta clicar aqui.

Mas, como eu ia dizendo, sempre quando escuto, leio, ou mesmo vejo algo sobre o Vandherbilt, logo me vem a cabeça um episódio inusitado e até, por que não dizer engraçado, desse que foi um dos melhores “fazedores de pranchas”...

Vandherbilt trabalhava na Mar Cristal. Foi lá que eu o conheci, um pouco antes de falecer, no início dos anos 80 num acidente no trecho sul da BR 101, quando retornava para sua casa em Garopaba após uma semana puxada aqui na ilha.

Requisitado por 9 entre 10 surfistas brasileiros, Vandherbilt era uma máquina... Com ele não tinha tempo ruim. Chegava cedo na fábrica e só parava a produção quando os braços já não agüentavam mais.

Tive a oportunidade de vê-lo shapeando 10 pranchas ao mesmo tempo. Isso mesmo! 10 pranchas produzidas simultaneamente. E o mais incrível, ele shapeava ao ar livre. Não tinha essa de sombra, de meia luz... O sol do meio-dia era o seu guia. Realmente, dentro da fábrica (um grande e velho galpão), o calor era mesmo infernal.

Nas mãos a plaina sempre ligada a uma enorme extensão plugada na tomada. Ele nos divertia com a sua velocidade e precisão!(?) Na primeira passada tratava logo de baixar as bordas. Depois, em sentido contrário, desbastava todas as outras bordas. Na seqüência, fazia os fundos e quando todos já estavam prontos, ajeitava os blocos nos cavaletes e finalizava o dome-deck. Tudo ao mesmo tempo!

Louco ou um gênio? Vandherbilt apurou o seu instinto na arte de shapear com o auxilio da luz do sol, e suas pranchas eram objetos de desejo mundo a fora...

“Tá tudo certo”, dizia ele com um sorriso no canto da boca, empilhando mais uma série de blocos...
Vai entender...

3 comentários:

Anônimo disse...

e aí Maurio, tenho espiado por aqui e lido coisas bem legais, parabéns. Mas vim comentar sobre o DNA do Vandherbilt. Além de bom shaper o cara pegava bem e deixou um filho que é um surfista de estirpe... despreendido das bobagens do surf (como ele era) e com uma linha do caralho... valeu!

Anônimo disse...

maurio recebeu meu e-mail? dá o retorno negativo ou positivo no meu e-mail abraços

Anônimo disse...

Oi Zanella, não recebi nada...
maurio@s365.com.br
Manda aí!
Abraço